Caso Gocil: Recuperação judicial de empresas de vigilância não é coisa séria

Algumas vozes assumiram a tarefa de defender o argumento da Gocil em relação ao seu pedido de recuperação judicial ou, como se dizia no passado, de pré-falência ou concordata: que as empresas do grupo Gocil não consegue honrar seus compromissos ou não tem capital de giro por causa dos altos juros.

Estas vozes, no entanto, escondem algumas indagações: o que causou o endividamento? Foi a administração dos recursos da empresa de Vigilância e de Serviço ou a retirada e saque de recursos das empresas para comprar bois e plantar soja e arroz?

Todo Vigilante com algum tempo de estrada já viu este filme. Patrões tirando dinheiro das empresas, saqueando as empresas para comprar fazendas, bois, aviões, mansões em Miami, fabricas e todo o tipo de bens e luxos. Ao final, com a empresa anêmica, sucateada, com todo seu sangue extraído, descartam a empresa como um objeto descartável, de verdade.

Quase todas as lideranças sindicais e a grande maioria dos trabalhadores já foram vítimas de patrões que quebraram empresas. Outros poucos “forjaram” a tal da recuperação judicial.

Nesta seara da recuperação dois casos foram marcantes para todos nós, até porque envolveram milhares de Vigilantes: a Coral em Goiás e Centro Oeste e a Sena Segurança em Pernambuco, Norte e Nordeste. Nos dois casos, os patrões se saíram bem, preservando suas barras de ouro e seu patrimônio e os trabalhadores lesados, alguns até hoje (mais de 10 anos) brigando na para receber seus direitos. Já as empresas, nunca se recuperaram.

Também nos dois casos o Plano de Recuperação fixou deságios ou descontos de 40% ou 60% nos direitos dos trabalhadores. No caso Gocil prepostos da empresa já falaram com lideranças sindicais que vão incluir no Plano deságio ou redução de 40% nos créditos dos mais de 20.000 empregados.

Isto tudo sem mexer uma vírgula no patrimônio do dono da empresa, na sua mansão e outros bens no Brasil e fora do país. No seu pedido ao Juiz da Vara de Falências e Recuperação a empresa alega “não possuir bens”.

Outro fato que chama a atenção é a lista de credores declaradas pela empresa. São mais 240 folhas, cada folha com mais de 50 credores, com valores que variam de 24 reais e 15 milhões ou mais. Sobre isto vamos falar um pouco mais a frente.

Querer levar a sério uma recuperação judicial num negocio de terceirização, com este perfil e com zero de exemplo de seriedade, é brincar com a vida e a inteligência do trabalhador.

Vamos acompanhar e denunciar mais essa “estória” nebulosa.

José Boaventura – Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Vigilantes (CNTV – CUT)